sábado, 18 de setembro de 2010

Terezinha de Jesus



A missa comecava sempre a mesma hora e era de uma pontualidade que, em certas ocasioes, chegava a ser perturbadora. Por exemplo, quando morreu Sr. Alfredo, marido de D. Amelia Pinto, a missa decorreu como sempre, numa assustadora tradicao. Os leais fieis mantiveram-se fieis, leais e curiosos, porem calados, apesar da vontade de uns, em saber os detalhes da morte do dito cujo e outros, mais nobres, em consolar sua viúva.

Aquando do nascimento do quinto neto de Manuel Sodre, o dono do mercado que ficava proximo a igreja, a comunidade paroquial ficou em polvorosa porque com mais esse menino perfaziam 15 criancas para serem batizadas num só dia.

Muitas avos, maes e tias comecaram a fazer um grande fuxico acerca da missa de batismo. Estavam tao angustiadas com a futura cerimonia que ja nao dormiam nem comiam direito, a excecao de Terezinha de Jesus, que ria prazerosamente de todas elas quando ouvia seus lamentos e preocupacoes acerca do tal domingo.

Coisa engracada em momentos como esse e o comportamento dos homens num ambiente dominado quase que completamente por mulheres, nao fosse o padre, as criancas do sexo masculino que irao ser batizadas e os pais destas mesmas criancas, mas ainda mais engracado era Terezinha de Jesus, uma senhora muito pobre e humilde, no seio dessa comunidade. Sabia, aconselhava muito a juventude e desejava sempre as meninas, quando, por exemplo, se despedia de uma moca jovem que a tivesse visitado, que esta fizesse um bom casamento. Nestes momentos, Terezinha de Jesus entrava numa especie de transe e suas memorias a faziam lembrar a sorte que teve em sua vida.

Era pobre, analfabeta, nao sabia manejar muito bem os talheres e com um falar tosco conheceu Jose, seu marido e cumplice de uma vida. Fora uma mulher comum, nada tinha ela de extraordinario, nem sequer sua feiura a fazia se destacar, era banal. Contudo, possuia um olhar revelador, que destrinchava bravamente qualquer personalidade que em seu caminho se pusesse. Aprendera a conhecer sua humanidade muito cedo e depois tratou de investigar essa mesma humanidade em seus semelhantes.

Terezinha de Jesus era calma e apesar da ignorancia inicial era dona de uma cultura e classe que abobalhavam ate mesmo os mais credulos. Na realidade, Terezinha de Jesus era um charme so, sua aura elevada sobrepunha qualquer mal-entendido que os preconceitos terrenos, num primeiro momento, sugerissem. Sua aparencia era completamente ofuscada pela violencia com que sua encantora personalidade se manifestava. Daquela trivial caipira saia uma voz tranquila, gostosamente falada e ritmicamente expressada. Seus olhos fixavam seu interlocutor de tal maneira que a pessoa se sentia escrutinada, mas eles, os seus olhos, so estavam interessados em ver seu semelhante, eles queriam ouvir suas lagrimas e reflectir sobre suas eventuais olheiras que grosseiramente sombreavam suas varias faces.

Assim era Terezinha de Jesus, que sentava-se com os joelhos juntos e punha as maos entrelacadas sobre eles tal e qual o protocolo a ser seguido por uma princesa europeia. Terezinha de Jesus era da opiniao que uma mulher deveria, sempre, saber comportar-se, saber estar, como dizem as pessoas. Uma mulher nao deve chorar suas tristezas com qualquer amiga ou vizinha, uma mulher nao pode, em hipotese alguma, contar suas intimidades matrimoniais. Seu casamento e assunto privado e nao devem haver mais de duas pessoas envolvidas nessa questão.

Terezinha de Jesus tambem achava que as mulheres eram muito bobas porque se importavam com o menos importante, o exterior. Quanto mais pintadas pela maquilhagem mais desinteressantes se tornavam aos olhos masculinos. Os homens, pensava Terezinha de Jesus, eram mais inteligentes que as mulheres, mas nao por serem superiores, o eram, simplesmente, porque as mulheres, essas sim, eram burras.

Terezinha de Jesus so conheceu uma mulher inteligente em toda a sua vida, a patroa de sua mae Hermerenciana, D. Joaquina Nunes, mulher casada e mae de dois filhos, esposa de Sr. Emanuel Fernandes, fazendeiro muito rico do interior de Minas Gerais que havia sido educado num colegio interno na Suica. Ele falava um frances perfeito, segundo seus convidados, que enchiam a casa durante os grandes jantares organizados na fazenda. Mas era D. Joaquina Nunes que mais comovia Terezinha de Jesus, seu equilibrio e quietude em meio a toda aquela ostentacao intelectual a deixavam perplexa e admirada. Sua humilde altivez, sua sanidade imaculada e sua simpatia inteligente a arrebataram de uma so vez. Foram meses dedicados a investigacao e reflexao sobre tal curioso caso. Porque sera que D. Joaquina Nunes a fascinava tanto?
Terezinha de Jesus, uma entao menina de 13 anos, rebolava na cama a matutar sobre o assunto, quando um belo dia percebeu que logo depois do almoco D. Joaquina Nunes sumia por duas horas. Nao tinha percebido antes porque nesta altura do dia ia sempre acompanhar as criancas mais novas ao catecismo, mas como padre Antonio havia ficado de cama por causa de uma gripe muito forte e como nao haviam conseguido arranjar um substituto que pudesse comandar a catequese naquele dia, Terezinha de Jesus, para nao se habituar a vida mansa, como dizia sua mae, havia ido ajudar D. Chica com os afazeres domesticos na casa grande da fazenda.

Durante todo o almoco nao tirou os olhos de D. Joaquina Nunes. Foi com esmero que serviu a mesa e com muito cuidado tratou tambem de disfarcar o quao emocionada estava naquele momento. Logo após o almoco, deu conta que D. Joaquina Nunes nao mais estava na sala de estar, a fazer o seu croche.

Desesperada, entrou na cozinha e D. Chica, ao mesmo tempo que ria, tratava de informar a menina, por compaixao, que sua “esperanca” se encontrava no escritorio a ver “ os rabiscos nas foias de parpeli”. A menina correu loucamente para a janela que dava para o escritorio e foi ali que descobriu o sentido de tudo. O segredo estava todo ali, nas maos de D. Joaquina Nunes, que tinha o estranho habito de o ler em voz alta.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Boba



Eu sei que tem gente que pensa que eu sou boba, bobinha, boboca... A bem da verdade, eu realmente sou boba, mas o sou por escolha. E verdade, eu fiz uma escolha! Acho que muita gente passa por essa fase, em que podemos escolher como queremos ser. Assim definimos o que, terminantemente, nao faremos.

Eu decidi que preferia ser uma boboca, mas nao qualquer bobinha por ai... Eu sou uma boba da Clarice! Porque segundo ela, existem os bobos e os espertos, e bem, os bobos parecem ser mais espertos que os espertos. Assim sendo, e por confiar na Clarice, assumi minha bobeira.

Minha vida de boba me mostrou muita coisa, um monte de verdades. A realidade gostou de mim e batemos um papo bem agradavel la no Jardim Botanico, junto dos passarinhos do Tom.

Existem muitos espertos e por existirem tantos, tenho me tornado cada vez mais bobinha. Os espertos sao muitos, alguns ate tem cara de bobos mas sao os que tem mais esperteza. Por vezes, tambem me confundem com uma espertinha, mas o meu inato silencio traz a tona minha bobeira e todos se apercebem que poderia ser esperta mas que nao sou.

Os espertos gostam de ser assim, gostam do palco e sao realmente muito bons nisso. Existe tambem uma outra classe de espertos, os dos bastidores e esses sao os grandes maestros. Os bobos compram os ingressos e assistem o espetaculo de camarote, na maioria das vezes. Os bobos sao os criticos, e com suas criticas dao animo aos espertos para continuarem sua vida artística.

Os espertos, por serem exactamente isso, espertos, acham os bobos muito bobos e nunca mudarao sua vida de esperteza por uma simples bobeira. O bobo sempre sera bobo, porque sendo um bobo ele consegue sentir coisas que aos espertos, passam despercebidas. O bobo gosta de ser bobo, ele esta imune a toda esperteza do esperto e a bobeira do bobo, por ser boba, consegue chegar aonde a esperteza nunca tera interesse em ir.

Todo bobo ja foi esperto, ou melhor, todo bobo e esperto mas nenhum esperto consegue ser bobo porque ele e esperto demais para uma bobagem dessas.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A descarada!



Tenho que parar de inventar personagens para mim mesma. Tenho que deixar disso, essa psicose meio paranoica e doida! Poxa, tenho que deixar de imaginar todas essas situacoes inusitadas que nunca irao acontecer! Mas, sempre vem um MAS...

Cara, eu estou sempre me reinventando, sei la... e quando eu faco o que eu quero, exclusivamente o que eu quero, sinto um vazio depois, alguma coisa fica sempre faltando. Entao eu me calo e escuto, rio e so comento...

Odeio quando percebo que alguem e burro, quando alguem esta sendo estupido e idiota, me sinto ma. Quem sou eu para julgar alguem? A sociedade nos educa a respeitar tudo, ate as maiores besteiras e bobagens que se ouve por ai. Acho que e por isso que nao consigo atestar um babaca como tal, puro pudor moral e auto-flagelante.

Ah, conheci ele hoje. Ele e super gente boa, fala pra caramba e imita um monte de sotaques! Relacao ao...ao..., e um figura. Me apaixonei, putz cara, me apaixonei. Tambem nao podia ser de outra maneira, ele tem um jeitinho especial. Me mostrou coisas novas, me lembrou do que nao devia ter esquecido e bom, me fez feliz.

Agora eu ando pensando em mais uma personagem, ainda nao sei bem quem ela e, do que gosta ou se gosta de alguma coisa. Parece quieta demais, estranhamente falante, as vezes, e pedante. Sei que e simpatica, bonita e pequenininha... talvez seja inteligente ou, se calhar, so bem informada. Ela esta meio perdida, foi a impressao mais definitiva que tive, porque ela tem muitas opinioes e quem tem muita opiniao nunca sabe muito bem o que pensar, sao sempre meio contraditorios. Acho que e por ai, ela e bem erractica, como se fosse muitas numa so, meio aluada ou de fases.

Peguei ela ouvindo Los hermanos, Simply Red, MGMT, Patrice, U2 e cara, Gabriel, o pensador... So pode ser crise existencial! E dificil estipular uma personalidade a uma criatura tao "versatil", assim fica complicado criar uma historia. A nova dela e essa historia do MAS, vou ter que escrever um POREM no lugar.
Menininha velha, so que interessante. Tem uma risada gostosa e essa risada a entrega por completo, a mascara cai toda vez que ri, e muito expressiva a moca. Eu acho que ela e feliz mas adora se fingir de melancolica. Sabe aquele charminho frances?! A nostalgia escancarada nos filmes deles! Entao, so pode ser isso... Por isso a impressao de ela estar perdida, ela cria os seus proprios comportamentos, como quem separa a roupa do dia seguinte na noite anterior.

Como toda boa frasa, ela e efemera. E ai sim, por saber que esse dia vai chegar, eu fantasio situacoes e especulo sobre o que estara por baixo dessas mascaras que dao vida a personagens tao meticulosamente criados e apresentados. A mente por detras disso tudo tem que ser no minimo DESCARADA!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A livraria



Era uma vez uma moca chamada Marina. Ela tinha 19 anos, estudava Historia e queria ser uma pesquisadora. Marina era morena, cabelos cacheados, pele clara, sorriso facil, meiga e carinhosa, um pouco magra, baixinha e simpatica. Era inteligente, altruista de forma negativa... pensava muito, complicada de uma forma estranha, preguicosa e ansiosa tambem. Vivia em Lisboa, no ano de 1989.

Marina era bonita, tinha um corpo delgado, esquio e elegante. Possuia um ar amavel, amoroso e bondoso. Era de um temperamento calmo, sossegado, mas acutilante, agitado e nervoso quando posto a prova.
Um belo dia, numa livraria, Marina conheceu Gabriel. Andavam a procura do mesmo livro e a primeira coisa que viram um no outro foram as suas maos a disputarem o objecto. Ia realmente virar uma batalha, se nao fossem os cachos de Marina a desviarem a atencao do sujeito, que parecia ter ficado admirado e embevecido, ao que Marina pensou "coitados, tao visuais...".

O obvio, ja que se trata de uma historia romantica, aconteceu. Ja la iam 2 meses de intensa sintonia e companheirismo, alegria de um amor com sabor de fruta mordida. Gabriel era um cara genial, Marina e que havia sido a sortuda porque ele era excelente. Defeitos, claro! Uma coisa muito comum em pessoas inteligentes e aquela arrogancia escondida no inconsciente desses individuos, mas Gabriel era uma excecao! Seus pecados eram outros, mais nobres... menos sujos.

Ele tinha sacadas hilarias, era expressivo e comedido, de uma sagacidade invejavel. Marina era uma menininha engracadinha, espirituosa e comica a seu jeito. Tinha mania de cheirar coisas novas, escrevia com as duas maos, adorava tirar meleca do nariz quando estivesse sozinha, gostava de solidao em muitos momentos e Gabriel, bem... Gabriel era sociavel, comunicativo e astuto.

Um belo dia, Marina avistou o fim. Ja estava na hora daquilo acabar, porque ninguem podia viver tao bem como ela vinha vivendo nos ultimos tempos. Sua vida sempre foi de fases e era a isso que estava habituada, fases e ciclos. A partir desse dia passou a aguardar ansiosamente o fim... Acordava de madrugada e olhava o relogio a espera que tambem ele acordasse e terminasse o amor dos dois.

Gabriel percebeu que algo estava diferente, Marina ja nao sorria como antes, ja nao conversava como antes, ja nao ria como antes, ja nao dormia como antes! Ela ja nao era a Marina, era uma outra qualquer. Passou a desconhece-la, paulatinamente. Finalmente, chegou o dia tao aguardado por Marina e com um olhar soube que o fim fora decretado. Houve uma semana de descanso ate o momento tao sonhado pelos dois.

E assim, Marina iniciou sua nova fase e foi assim tambem que Gabriel se encantara por Joana. E o tempo passou, algumas coisas melhoraram, outras mantiveram-se.

Um belo dia, numa sexta-feira tumultuada, Marina teve que ir a uma livraria comprar um presente a uma amiga que fazia aniversario. Gabriel queria comprar um CD, uma colectanea do Caetano. Marina e Gabriel cruzaram-se novamente, na fila do caixa. No olhar admirado de Gabriel via-se que Marina agora era uma mulher, e ele quase se deu conta de que ela sempre fora o amor de sua vida... porem, nessa hora, ela fez-lhe uma pergunta, a qual ele nao percebeu e teve que pedir para repetir. Ficaram ali, por uns 3 minutos a darem suas noticias um ao outro, trocaram telefones e prometeram ligar.

Gabriel se apercebeu do que faltava em sua vida e Marina soube o quanto ele havia feito falta na sua.

domingo, 8 de agosto de 2010

Maria, a da Farmacia



Todas as tercas-feiras Maria tinha 2 horas para o almoco. Trabalhava na farmacia da esquina de sua casa. Toda a sua vida esteve ali, no seu bairro, Santa Cruz da Serra. Era uma moca comum, nela nada havia de incomum. Contava 27 anos, solteira, com algumas historias, sonhos e planos tambem. Nao era bonita, era comum. Almocava todos os dias no botequim do Seu Milton.

Curiosamente, naquele dia sentia-se diferente. Podia ser a TPM, podia ser do calor, mas na realidade, o motivo nao a preocupava tanto assim... Comecou a reflectir sobre factos passados, viu-se ridicula em muitas situacoes e isso arrancou-lhe gargalhadas, mas surpreendeu-se com o quao aberta foi com meros estranhos, pessoas que ate hoje ela cumprimentava e conversava mas com quem nao criou vinculo nenhum, apesar dos anos.

Eram nessas coisas que Maria pensava quando uma mosca pousou em seu refrigerante e era nisso que continuava a pensar quando a afastou tambem. Percebeu que houve um momento muito delicado em sua vida, um momento em que se expos demais, sem motivo, por pura inocencia ou fragilidade. Deu passos errados, sem pensar... Juntou-se a multidão.

Compreendeu que em muitas situacoes nao teve personalidade nenhuma, nao havia muito ali dentro na altura. Assustada, pousou os talheres e perguntou-se se esse passado era longinquo ou se ele ainda estaria conectado ao seu presente. Seria assim tao patetica? Quis culpar-se, mas lembrou-se das muitas culpas que ja carregava consigo. O que faria Maria dali para frente?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sensatez



Ansiedade nunca foi coisa boa ja dizia minha vo Luzia. Uma pessoa ansiosa tem o tempo do descanso assaltado pela ansia de um futuro que irremediavelmente vira... Mas a loucura e tao absurda quanto isso, a paz vira tormento e aquele tempo tao precioso, criado para o ocio afim de uma recarga natural, transforma-se numa batalha onde o desespero e sempre o vencedor.
Tardiamente o ser humano torna-se capaz de lidar com essa profunda emocao, que acredito eu, esta ligada com a maturidade emocional. Saber controlar os impulsos e desvarios nunca fez mal a ninguem, dizem agora, os mais velhos. Enfrentar mares violentas e saber por a cabeca no lugar certo e uma coisa possivel, nossa inteligencia de homo sapiens nos permite ter essa capacidade... tao exclusiva, diga-se de passagem.
O motivo de ser tao dificil adoptar-se um comportamento expressamente natural e ponderado e para mim, desconhecido! O que vos digo remete a implacavel verdade da sensatez. Bom senso nunca antes fez tanto sentido. Nos dias que correm ser lucido e uma "habilidade" capaz de determinar nossa sobrevivencia nesse mundo de maluquices cada vez mais bizarras e psicologicas.
Pense, reflicta... reflicta mais um pouco, depois, analise mais um bocado. Leia, ouca, pergunte, indague, verifique como for possivel, construa puzzels, desconstrua e reveja as possibilidades. Finalmente arrisque, e sempre um risco, um risco bem grande, mas viver e correr riscos. Se der zebra, "zebrado" estaras. As listras ensinar-te-ao alguma coisa, disso tenho a certeza, e eu ca sei do que falo. Quando estiveres a meio do caminho, nem por um segundo olhes para tras e te perguntes " Se?..." Simplesmente nao existe o tal de "Se..." caso encerrado! Quando o "Se..." ja nao fizer sentido algum, ai realmente estas curado.
A vida pode ser uma doenca, a vida, por vezes, mata. E uma morte lenta... Sempre sera.

domingo, 18 de julho de 2010

Gente grande!



Braulio ja estava comecando a se cansar daquilo. Ja nao era nada parecido com o que outrora havia sido. No principio estava encantado, todo bobo com sua paixao! As afinidades indicavam que sim! Era ela, so podia ser ela!
O tempo vai passando e com ele muita coisa passa tambem, e arrastado junto com ele. Como um buraco negro que suga toda a existencia ao seu redor. E uma pequena morte...
Obviamente que sente tristeza, profundo pesar pelo rumo que a sua "Paixao!" tomou, sente que foi um pequeno fracasso seu, uma fraqueza.
Como ser humano que e, pensa onde estaria o erro. No meio ou no inicio?! Porque ainda nao existe um fim. No entanto, no inicio nao poderia ser, uma vez que fora tudo tao magico e excitante... definitivamente o erro nao estava no comeco. Por eliminacao, descobriu que o desenrolar era o culpado do fim de sua paixao!
Nao soube lidar com a saudade, a vontade de sexo, a necessidade de ver e falar com sua paixao! Queria tudo a mao, burlava limites necessarios afim de saciar-se. Nao soube ou simplesmente nao quis respeitar os sinais.
Braulio agora esta no meio do caminho... esta para descobrir que tudo tem sua forma de ser, seu meio e seu destino.
Ha que saber que a vida e constituida por regras, regras universais. Toda accao provoca uma reaccao directamente proporcional... E preciso respeito, juizo e maturidade para se viver uma real paixao! Nao sejamos amadores. Alias, amor nada tem a ver com paixao... amor e muito, muito mais elevado... amor e para gente grande!

Os dentes de marfim



Por esses dias que correm, muita coisa aconteceu. Constatacoes foram mais uma vez,confirmadas! Duvidas ultrapassadas, desejos saciados, uma nova realidade acaba de ser instaurada.
Ela poderia ficar feliz, deveras feliz, se nao fosse a sua natureza ansiosa e, um tanto masoquista, a explorarem sua linda imaginacao, a imaginacao de uma crianca. Sofia era querida, um encannto de menina, um carinho de bochechas e doce como seu pirulito, ou sambapito. Quem dela se aproximasse, sentiria quase que imediatamente o saudosismo, ora gostoso, ora doloroso, da inocencia pura de uma verdadeira crianca.
A menina tinha mesmo carisma! Suas amiguinhas ja comecavam a inveja-la... os meninos nao eram mauzinhos com ela e pasmem! Recebeu uma flor do Renatinho, o chefe da gang do bairro... era o mais travesso de todos, zanzava pela cidade ate o anoitecer e nao temia ninguem.
A vida corria bem para Sofia. Sofia era um doce de menina, inteligente tambem, bonita a sua maneira mas apaixonante desde do primeiro instante. Contudo, Sofia tinha medos, muitos medos e receios, pesadelos de vidente, dentes de elefante, de um marfim muito raro... Sofia tinha mesmo muitas duvidas, uma grande necessidade!
Sofia queria crescer, ser mais velha e forte para enfrentar seus monstros.. Sofia rezava todos os dias para crescer e ficar mais velha...

quarta-feira, 30 de junho de 2010

HIV




- Esses gatos sempre a mexerem nas minhas plantas! Nunca vi tantos gatos assim em Benguela! Mas prontos, voltando ao assunto...
Estavamos num almoco. Todos reunidos, uma especie de reencontro. Muitas brincadeiras, alguns flirts... eramos jovens e queriamos curtir. Encontrei muitas caras novas, a comida daquele dia ainda deixa saudade. Era nitida a vontade das pessoas em se divertirem, conversarem, dancarem, comerem, cantarem! Foram muitas as anedotas!!!
A meio dessa celebracao, quando o segundo grupo de pessoas se preparava para se apossar da unica mesa disponivel na festa, entre um "podes te sentar aqui"... " ja estou a acabar ya canuka!" Ele corta o dedo nao sei como. Parece que o copo estava rachado. Estava sentado mesmo a minha frente, mais para a direita, acho eu. Entretanto, senti que tinha acontecido mais do que um simples cortar de dedo. Um segundo depois, quando pus meus olhos nele, vi o horror estampado! Tinha tambem vergonha e humilhacao... sincero desespero e, por fim, um altruismo meio destrambelhado.
- "Afasta-te!" Gritou ele.
Levei um susto dos diabos, ate humilhada me senti. Nossa relacao nunca havia se desenrolado. Desde sempre houve um carinho muito grande mas era extremamente complicado nos relacionarmos.
Perguntei-lhe quando havia descoberto. Olhou-me nos olhos com grande surpresa, pude ver ate mesmo remorso e arrependimento, um pedido de desculpas por tanta omissao e menosprezo por mim ao longo dos anos. Foi com uma voz rouca que respondeu:
- Soube ha 6 meses... e quero viver.
Alguem, nao me lembro quem, toca a correr, abraca-lhe e poe-se a chorar. Depois, mais algumas pessoas fizeram o mesmo. Nao pude nem consegui consola-lo, sofri minha dor em silencio, no geral e no comum.
Pouco antes de sua partida, enviei-lhe uma carta. Tivemos uma de nossas melhores conversas algum tempo depois, mas continuamos cronicos estranhos um para o outro. Nunca hei de compreender nossa relacao.
- Avo, desculpa interromper, mas precisas de alguma coisa? Vou ao supermercado, amanha vou dar um jantar la em casa, sao os anos da Claudia e...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Bussola



A queda foi pesada, o desacreditar era muito real e aquela dor era justificada, justa.
Ela nao sabia por onde comecar, nem sequer se podia recomecar. Mas foi durante esse cancer que ela nasceu, finalmente ela nasceu! Anos foram precisos para estar pronta para emergir, sua casca estava se rompendo e de seu corpo ela nascia.
Ofegante, teve seu primeiro orgasmo e ele foi seu, somente seu, dela. O medo se dissipava cada vez mais e o desprezo alheio, a arrogancia e ate a ojeriza, eram subtraidos, ja nao machucavam porque agora ela sabia, compreendia quase que perfeitamente essa mistica dinamica da vida, seus niveis e processos.
Estava a comecar a ser mulher, ja a tinham penetrado algumas vezes. Nao em sua vagina mas em sua psique e sua alma. Ja a haviam engravidado tambem. Seu filho estava a crescer... Quer aprender a viver.
Seu corpo reclama pelo que ja teve uma vez. Ele quer suar e vibrar novamente e seu cerebro procura alguma languidez.
Mas ela nao preve, prefere o casual, o reencontro natural. Espera intensificar algo em si mesma, ser sua unica estrutura, seu definitivo lar.

" Que sejas tu a minha bussola. Que aconteca segundo as tuas recomendacoes. Quando sentir, avancarei, me entregarei louca e despudoradamente para logo em seguida retornar curada, sa e jubilosa, a mim mesma."

A cegueira de Saramago



Foi durante uma aula de ingles que despretensiosamente, meu professor se disse incredulo quanto ao aquecimento global. Minha curiosidade de crianca disparou um "Porque?!" impiedoso. Nao obtive resposta, nao era o objectivo da aula... nao voltei a insistir.
A remota possibilidade dessa opiniao ter uma base bem fundamentada deu-me animo para pesquisar sobre tal disparatada posicao.
Eventualmente, visitando um blog de economia li a seguinte frase: duvidar sempre!
Lembro-me de ter achado aquilo tudo muito engracado, a preguica riu a largas gargalhadas! Como assim duvidar sempre? Sermos sempre desconfiados entao?! Nao ter paz?! Muito cansativo.
Porem, no momento presente, com todo esse dinanismo da verdade, o cepticismo nunca antes fez tanto sentido. Nao existe o absoluto, penso que exista o sensato, o de boa-fe! O solidario. Adicionalmente, a ignorancia revelou-se, novamente, uma doenca muito perigosa, talvez a tal cegueira de Saramago.
A partir de agora, duvidarei cada vez mais, pois nada pode ser hegemonico!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Incessantemente!



Sinto que tudo se desmorona rapidamente. Momentos de jubilo esfumacam-se no cinzeiro de vidro que, delicadamente, enfeita o espaco.
Ele e assim, sempre o foi e sempre o sera. Nao porque quer, mas porque nasceu dessa maneira, com essa sua verdade... e tambem a sua defesa, seu contra-ataque! E tu, deixa-lhe ser o que quiser, so nao comprometas o que conquistaste em ti.
Entretanto, o desmoronar e ilusorio. Trata-se apenas de um sopro inesperado que ocasionou uma pequenita erosao. Motivo para o martirio nao ha, por isso trata de analisar a situacao com o auxilio da razao! Aguca a tua percepcao e permita que uma certa malicia se manifeste. Veras nitidamente que tal perfeicao jamais existiu, em nenhum dos lados.
Uma vez conscientizada, ja nao seras derrubada. Saberas como raciocinar, como pensar, como nao responder... perdoaras. Estalidos em um cristal podem ser caminhos abertos, novos ares, uma nova visao. Esse aprendizado depende de nossa disposicao, contudo as oportunidades de assimila-lo sucederao-se incessantemente!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Abraco!



A solidao nos abate nos momentos mais inesperados e inusitados. Quando finalmente realizamos aquele "sonho tao sonhado" e inoportunamente, durante o trajecto um vazio nos preenche o peito e a excitacao se desvanece a perplexidade se apodera de minha mente.
Pessoalmente, essa emocao sempre foi muito assustadora. Lidar com ela e assunto "cumplicado"! Porem, o que significa estar sozinho? Literal e metaforicamente falando, uma pessoa pode se perceber relegada a solidao estando rodeada de gente. Entretanto, outras podem estar assumidamente so, porem, intimamente, saberem que estao muito bem acompanhadas por si mesmas! Ha ainda, os que sozinhos sao e simplesmente nao o sabem, seja no intimo ou na pratica.
Por conseguinte, como tudo na vida, nao existe regra geral para esta situacao tao corriqueira e natural. Nascemos sozinhos e sozinhos morreremos, a diferenca talvez esteja na forma como desfrutamos nossa vida solitaria. Uns sabem que durante a caminhada terao abracos reconfortantes, ombros amigos, o amparo do companheiro/a, a cumplicidade que tao humana e. Para outros, ignorar e a solucao. Preferem nao ter que lidar com o monstruoso vacuo que por vezes nos sufoca e desnorteia, escolhem se concentrar no final da trilha... Simplesmente me pergunto se este nao e senao um comeco, ou ainda, se realmente existe um sincero fim.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ruptura



Ele pendeu para o seu lado da cama. Ela, paralisada, continuou com o olhar fixo no teto. Alguma coisa tinha acontecido ali, seu corpo era assaltado por um estremecer doloroso e seu sangue fluia com vigor dentro de suas veias.

- Uma pena.

Por varios segundos ela nao soube o que pensar, do que ele estaria a falar? Sua voz foi firme, calma, meticulosa, articulada. Por tudo isso, sentiu-se assustada. Um profundo assombro se apoderou de seu ser e a curiosidade aticou sua lingua mais rapido que a razao.

- Vou melhorar.

Uma lagrima brotou em seu olho, uma lagrima com um peso jamais imaginado. A admiracao cultivada por tantos anos findara ali, naquele momento, pelo acaso. Por pura estupidez chegou ao fim. A dor dominou sua mente, sua esperanca sucumbia a realidade do som. Sua lagrima ja estava envenenada, de nada adiantava tentar expelir uma verdade ja entranhada.

- Eu juro que vou me esforcar.

Tornara-se insuportavel. Identificou os primeiros sinais de desprezo, apatia por aquela criatura com quem nos ultimos nove anos dividiu sua cama. A ojeriza perturbou seu ser de tal maneira que levantou-se abruptamente e sem uma decisao tomada, decidiu-se pela ruptura.

Resquicios de lucidez fizeram-na aguardar em silencio. Seu desvario neutralizou seus membros e em silencio mas com o olhar, acompanhou os movimentos de seu companheiro de tantos anos. Ele fez sua mala, uma mala rapida, de urgencia, de salvacao! Estava aflito, sufocado, saia em liberdade. Isso a choca, a magoa, a viola... nao sera capaz de perdoar tamanha sinceridade.

- Se voce precisar de alguma coisa, pode me ligar.

E ela, sabendo que ali teria sua desforra, fez uso de toda a sua educacao. Foi da seguinte maneira que destilou suas terceiras intencoes:

- Que sejas feliz, e isso que te desejo. Do fundo do meu coracao.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Simplicidade



Penso que nao existe caracteristica mais sofisticada que a simplicidade.
O simples e intemporal, pode ser absoluto, ser resoluto. Ele pode ser tudo partindo da sua profunda e real verdade. Quando um ser humano atinge esse nivel de compreensao acho que nao sobra espaco para odios, rivalidades ou mal-entendidos. Em um patamar como esse podemos ir ao mais baixo dos degraus e ter uma agradavel conversa; ouvir os medos; as preocupacoes; as comprovadas deficiencias do outro.
O olhar da simplicidade e tranquilizante. Ele nos convoca a uma inspeccao pormenorizada sobre nos mesmos. Por vezes, as pessoas se apercebem que os "contratempos" sao ricas oportunidades para a maturacao da consciencia.
A voz de uma pessoa simples possui uma sonoridade diferente. Uma pessoa simples fala pausadamente, paulatinamente. Uma pessoa simples ira apreciar a tua alma e ira olhar-te directamente nos olhos. Ela nao ira te julgar, so tentara te compreender, conhecer.
Simplicidade e uma pratica diaria, arduamente conquistada, verdadeiramente exercida e que nao aceita, nem pode, ser mascarada.

Uma mulher verdadeiramente forte.




Esse titulo nao e meu, mas como diz Flavio Gikovate, o tema e fascinante.
Minhas peripecias romanticas, que nao sao muitas, foram fantasticas e desde novinha me indagava bastante sobre o assunto "Homem e Mulher". Precoce como uma jabuticaba verde no quintal do meu tio Joao, me perguntava sobre as varias questoes relacionadas a essa tao rica faceta da sociabilidade humana.
As desilusoes foram suficientes para me interessar ainda mais, buscar novas ideias, novas formas de interpretar o fenomeno. O meu ultimo encontro ou desilusao, foi revolucionario, aderi e me revolucionei tambem.
O cruzamento com as ideias de Gikovate so vieram reforcar minhas iniciais deducoes "pos-revolucao interna". Me apercebi da grande alienacao que impera em nossa civilizacao feminina ocidental. Os inumeros filmes, seriados, as revistas e suas "infaliveis" e infindaveis sugestoes para atrair o sexo oposto e como estruturar a consequente performance sexual, os pseudo-terapeutas, etc, nos fazem acreditar que precisamos disso ou daquilo. Dessa forma, comecamos a imaginar que nossa felicidade depende, principalmente, da aquisicao de determinadas coisas.
Em minha humilde opiniao, o que vejo sao mulheres capazes, autenticas, por vezes autodidatas, formadas pela vida, serem reduzidas a pobres metades debilitadas. Revolto-me contra isso, revolto-me contra essa verborreia mediatica e sensacionalista.
E tempo de reflexao, e tempo de questionar nossas referencias, contestar o dado como certo, e sempre tempo para se duvidar! "Quem disse que os outros e que sabem o que preciso para ser feliz? Quem lhes deu esse despotico direito?"
Deixemos o ridiculo. Que os novos ares nos tragam autenticidade, singularidade, maior compreensao e criactividade.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Abusiva!



"Come back, "comeback", come back baby..." ... Sempre que ouco uma musica assim, dessas que nos entram e, como nao poderia deixar de ser, nos preenche! Me sinto inspirada, como se estivesse preparada para todas as situacoes possiveis dessa vida. Obviamente que isso e um disparate sem tamanho, mas me permito ser disparatada nesses momentos! Em horas como essa sou !ABUSIVA!
Quando olho as estrelas as trato como companheiras... mais uma incognita a ser desarticulada. O ar fresco da escuridao me guia pela imensidao do desconhecido, isso me excita, me extasia. O nunca antes visto chega a ser hipnotizante.
As palavras voam pelo ar, os cheiros deixam rastros, sinais da sua passagem como se fosse um ritual ancestral, existencial. Meu caminho e intuitivamente percorrido, minhas ancas circulam impiedosamente, elas comprovam minha confianca, minha determinacao.
O esvoacar de meus cachos lanca minha pocao magica. Estou segura, estou sa, estou voltando, agora mais mulher... na pele de uma mulher. Por meus labios ja sairam muitas palavras, a partir de agora falarei atraves de gestos, de ritmos, com os olhos, com a pele, com o som.
Nessa odisseia, quero celebrar. Vou deixar de me preocupar, estou abusiva e quero arriscar. Busco os pequenos prazeres, vou experimentar o doce da violeta e provar a acidez do veneno de um escorpiao. Quero misturar o indiscutivelmente incompativel so pela curiosidade de ver no que da.
Mas isso tudo, essa fascinacao pelo extra(ordinario), essa discrepancia, essa permissibilidade, essa miscelanea toda! Isso e um estado de espirito e so e possivel quando estou ABUSIVA!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Nao adianta ficar na janela.




Nao adianta ficar na janela, ele nao volta;
Nao adianta te lamentares, ele nao volta;
Nao adianta gritares, ele nao volta;
Nao adianta esperneares, ele nao voltara.

Quando ele partiu, foi de vez;
Quando ele partiu, ele fugiu;
Quando ele partiu, ele avisou;
Quando ele partiu, ele consentiu.

O caminho comecou;
O caminho se abriu;
O caminho te empurrou;
O caminho se fundiu.

Agora tens a ti propria;
Agora tens a chance;
Agora tens o amanha;
Agora tens... descobre o que tens!

domingo, 9 de maio de 2010

Carpe Diem




Realmente nao sei o que dizer, nao sei o que fazer.
Quando crianca, costumava prestar muita atencao ao trajecto que fazia de carro. Ora para ir a uma festa de familia; Mussulo; Panguila; Ilha; ora para ir a Maravilha. Uma lembranca muito forte que tenho dessa epoca e o olhar de admiracao das criancas na rua. Olhavam-me como se fosse uma princesa europeia desfilando dentro do seu carro refrigerado, com vidros automaticos, cabelos perfeitamente penteados, usando roupa bonita.
Por conseguinte, sentia-me suja, ma... fria como uma usurpadora. A tristeza patente naqueles olhares invadiam-me a alma e arremessavam-me para as profundezas da Terra. A estupefaccao e curiosidade delas por algo nunca antes presenciado esbofetiava-me a cara, o pingente de ouro impingia-me mil dores.
Percebi que algo muito mau acontecia ao meu redor. Mas eram todos tao felizes! O mussulo era musical, o almoco era sempre rico! Sempre tinha alguma festa. As pessoas viajam, parentes viviam fora... o que era aquilo que via na rua? O que eram aquelas criancas sujas, famintas, pedintes, amputadas, na rua?! Aquelas mulheres chorosas, com seus bebes as costas, com bacias nas cabecas a gritar os seus lamentos?! Porque tinha sempre gente no portao a pedir por alimento?!
Hipocrisia e uma doenca que se instala lentamente, silenciosamente. Ela penetra em nosso coracao e se acomoda... se aloja, e entranha. Nos envolve, adorna... poe sorrisos vazios em nossos labios e nuvens brancas em nossas iris. Pensamentos programados, sentimentos irreais, surreais... e assim vamos esquecendo a arbitrariedade.

Macho




Penso que a abordagem que farei e pouco usual. Obviamente que e um assunto que por vezes vem a baila, e talvez seja esse o motivo de estar a escrever sobre ele agora... talvez essa atitude esteja em voga, novamente.
A sociedade critica enormemente as mulheres vulgares, as prostitutas, as burras e interesseiras, as faceis, as mal-amadas, as apelativas. Em parte, posso concordar. Todavia, me flagrei reflectindo sobre a outra metade... a metade masculina, e fiquei extremamente surpreendida com minhas constatacoes.
A vida da mulher mudou, a realidade social se transformou. Mulher agora e chefe, parceira, socia, rival, competente! Mulher agora pode mandar, pode gerenciar, pode decidir, pode evoluir.
Como ser humano que e, o homem tem deficiencias, carencias, complicacoes. Consequentemente, sao muitos os que "fraquejam" diante duma mulher. Fraquejam no sentido de manter sua personalidade, suas opinioes, superar suas limitacoes. Dessa forma, esta constituido o ingrediente basico para a situcao que vos coloco.
O homem tambem se prostitui, o homem tambem se vende, se desvaloriza, se expoe, se torna facil e usado, "rodado"... tambem e explorado. Alguns o fazem somente psicologicamente, outros vao alem e o usam o corpo tambem. Para uns e inconsciente, para outros, intencionalmente. A visao de homem muda, e ai que o homem muda. De guerreiro valente, protector e soberano a pobre gigolo insano.

sábado, 8 de maio de 2010

O tal olhar sobranceiro



Janela d'alma: Voz, olhar, toque, sorriso, presenca. Quando a maturidade bate a porta, ela quer se instalar, dominar, perpetuar. Quando a maturidade fala a gente obedece.
Maturidade e movimento, e consciencia de que o efemero e eterno. A vida e conduzida com calma, serenamente... Os amores sao vividos, as dores sao partilhadas, os desprezos observados e inutilizados.
A parceria e com a vida e com o que ela tiver para nos oferecer. As fases sao saboreadas, superadas, compreendidas, concluidas. A paixao e feroz, excitante, torrida, conveniente, inteligente. O amor e vagaroso, preguicoso, jocoso, inebriante, extasiante, preliminar. O sexo e voraz, necessitado, febril, primitivo, inquisitivo, precursor, mister!
Contrariedades sao engracadas, um elixir! Os odios um aprendizado. As magoas um mapa; as decepcoes um horizonte; as ideias um estimulo; as perdas uma esperanca; o tempo... melhor amigo.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Um problema social...



Cara, desde pequena escuto um "bafafa" sobre um tal de problema social! Geral na escola so sabia falar sobre isso: "porque neguinho nao tem liberdade de expressao; porque em novela da "Grobo" preto e so empregado, motorista, baba ou sequestrador".
Mane, o povo vira e mexe esta falando de exclusao social. Ai criaram as cotas pras universidades. Entao gente de cor agora ja vai pra la. Favela agora e "Comunidade" ta ligado?! Tem que falar o portugues politicamente correcto. Politico agora, mora na baixada, casa na baixada!
"Oh my Gosh, this TV is doing my head in!"... Todo mundo agora tambem fala "ingres", pensa em "ingres"! Estrangeiro quando vem aqui fica maluco com a beleza que encontra. E agora a TV ta miscigenada (palavra dificil ne?), ate protagonista preta ja tem, viu! O mundo da voltas... e os portugueses com medo do horizonte, expansao maritima... fala serio.
Mas, sera que... sera que vai mudar mesmo? Tipo, mudar de verdade! Sera que meu irmaozinho vai poder ter playstation? Estudar com professor bacana, sabe? Ir na praia no fim do dia... Po, espero que sim. E complicado ter que pensar em dar a volta por cima quando o senhor Mathias ta em cima de mim, ele tem um bafo horroroso! Mas vale a pena, assim o Luizinho pode se dedicar aos estudos e minha vo Maria assiste a novela sossegada... e eu sei que um dia as coisas hao de melhorar, afinal Deus e brasileiro ue!!!

Inadvertidamente,




Inadvertidamente, acordei mais cedo que esperava. Precisava apanhar o metro as 7:30! Dormi com essa preocupacao, mas o meu relogio biologico e britanico e nunca me deixa na mao.
Me arrumei dentro de 1 hora. Em pleno inverno londrino me aprontei com esmero: casaco elegante, sapatos e bolsa condizentes e perfume frances que ja passou a ser minha marca registrada. Quando chego a algum lugar, pressinto os olhares de admiracao, e tambem de inveja... que tanto me envaidecem. Ah! Ia esquecendo que nao posso admitir esse pequeno prazer nem para mim mesma, que descuido meu!
Pois bem, ja na estacao, percebo que o dia nao vai ser facil. As ruas estao cheias, ninguem olha para ninguem, estao todos pensando nos seus afazeres, suas preocupacoes, seus sonhos. Me orgulho dessa minha disposicao para prestar atencao no outro, me sinto unica, especial...
O frio invernal tambem tem seus encantos, como tudo na vida, alias. E tao agradavel sentir esse frescor, esse cheirinho de perfume que fica suspenso no ar... Que maravilha, uma delicia.
Porem, a meio desse extase de gratidao com o universo, me deparo com a seguinte situacao: a menos de 10 metros de onde estou tem um corpo jogado no chao. Digo um corpo, porque parece estracalhado, arremessado, destrocado. Nao pode ser um mendigo dormindo, aquela pessoa esta definitivamente morta. De onde estou consigo me aperceber que se trata de um homem, meia idade talvez... branco, desiludido, provavelmente decepcionado, pobre coitado. Apesar de estar com alguns casacos, sua pele esta roxa, contorcida.
Meu caminho converge para o local exacto do desafortunado. Apressadamente, transponho os poucos metros que nos separam, e com uma magistral esticada de perna supero o obstaculo. Gracas a Deus meu Jimmy Choo salto 15 saiu intacto! O capuccino tambem nao entornou durante o pulo, que sorte!!! Consegui chegar ao escritorio as 8:45. Uma vez la, percebi o olhar “elogiador” do Sr. Brown, sou sempre uma das mais pontuais aqui. Os ingleses valorizam muitissimo isso, para eles e como um sinal de civilidade, penso eu.
Amiga, ja nao tenho muito tempo para escrever... algumas coisas por fazer. Mas pode deixar que assim que estiver livre mando noticias e acabo de contar como esta sendo a experiencia aqui!

Beijos, espero que esteja tudo bem ai!!!
Saudades, Anabela.

Do amago





Orgulhosa sou do sexo que carrego entre as pernas, orgulhosa estou do periodo em que sangro e demonstro a natureza ao que venho.
Envaidecida fico quando sou galanteada, quando sou acariciada, quando sou admirada. Realizada me sinto quando meus seios incham e minhas pernas, dormentes ficam.
Admiracao brota em meus olhos quando inesperadamente a maturidade me procura, pede conselhos e sugestoes, opinioes.
Com franqueza digo nao, ponho um ponto final, cesso uma uniao.
Sinceridade exercito na pele, na carne, na voz, no corpo, na reflexao.
Com devocao recebo sua invasao, sua compulsao.
Traumatizada esboco um sorriso nos labios, venco minha desgraca e volto a amar, novamente.
Sorrateiramente, avanco pelo terreno... busco refugio, me desequilibro, me esfolo. Mas sem motivo aparente insisto nessa obcecacao.
Obstinadamente, alimento esse sentimento... fruto de ilusoes e deturpacoes, alienacao e comiseracao.
Vaidade explicita viola minha humilde graca. Volupia vence meus singelos encantos, minha delgada presenca e ofuscada por profana carencia.
Indisposta fico quando sou visitada sem emocao, quando fugazmente satisfaco, quando deploravelmente preencho o espaco.
Radiante sorrio quando a luz contrapoe meu horizonte e prevejo os maiores misterios do universo, um sorriso brota neste instante, sempre neste instante... e constato, constato.

Adeus!





E com uma fisgada em meu amago me despeco de ti. Ruptura em meu corpo, meu sexo, meu paradoxo...

Um coracao palpita na escuridao, ha sinal de vida apesar de tudo. Vida que brota do estupido instinto de sobrevivencia, e fisico, animalesco... nao e racional!
Despedacada, espancada, ultrajada, usurpada... para onde ir?

Periodo de tormenta se instala, a flor da pele a natureza se vinga, ensina, instrui!

- Mulher flagelada... crianca prematura, poe-te de pe pobre criatura. As tuas lagrimas secam teu espirito, teu esgar endurece esta terra, teu ar vicia o ambiente. Desaparece aberracao indecente!

Nao sabes amar,so sabes desejar.
Nao sabes manter,so sabes usar.
Nao sabes ensinar,so sabes fazer.
Nao sabes admirar,so sabes cobicar.
Nao sabes criar,so sabes refazer.
Nao sabes aprender,so sabes copiar.
Nao sabes viver,so pensas em vencer!

Dito isto, a formiga seguiu em frente... e me dei por feliz pela minha pequenez!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Cabelo




Mulher, bicho estranho!!! Mulher e fogo, ou melhor, e fogo ser mulher. Contudo, adoro se-lo... e interessante! Mas... ser mulher e fogo!!!
A mulher e o seu corpo, seus trejeitos e defeitos. Seus feitos sao sedutores, comprometedores. O corpo que ama, manifesta, infesta, detesta! Mas o que pensar sobre o cabelo?! Cabelo! Nao ha homem que possa dete-lo!!!
Cabelo fala, avisa, adverte, diverte! Natural ou artificial... preto ou amarelo, castanho, vermelho. O branco sinaliza, interrompe, pontua. As mulheres e seus cabelos.
As que, visualmente nao o tem, possuem-no na alma... esta no olhar!
Cabelo e amigo, arma secreta, pocao magica, afrodisiaco, abrigo...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Coisas indiziveis.



Existem coisas indiziveis, palavras marcadas, frases inacabaveis. Por vezes, passo o risco, transponho o limite com o proposito de redelimitar um terreno ancestral. Sera isso sentido aventureiro e visionario, proprio de um desbravador ou insensatez infantil, digna de pena e escarnio?
Somos todos ridiculos ou se calhar, estamos apenas expostos ao risco de nos tornarmos ridiculos, de sermos tomados por ridiculos ou ainda, o mais infame de todos, sermos ridicularizados!
O sufixo (ado) me remonta a um sentido de violencia... atormentado, hipnotizado, alucinado. Ridicularizado e pesado, feio e desinteressante. Sao minutos, momentos, olhares, encontro de olhares, uma infinidade de bater de pestanas, risos, sorrisos, esgares...
Destrocos para serem removidos, escombros cada vez mais pesados e discrepantes, efemeridades eternas, enfermidades internas.
E com um sem fim de palavras, finalizei nosso encontro. Saudade no peito fez-se murmurio, lamentacao! Com tempo, saudacao.
Para que tantos sonhos, tantos desejos? Tamanha ambicao so leva a ambiguacao, decepcao!
Solicita, a sensatez me visita com determinacao, preocupacao de uma leal amiga, ainda dos tempos ancestrais. Seu zelo protector e promotor de um inconsciente furor. Ansia de quem nao viveu o que e seu.
Quando tudo que foi devastado se misturar as entranhas da Terra e a ela se confundir, teremos assim algo para segurar nossas raizes.
Jamais mutilar o espirito em leviana curiosidade! Caracter vulneravel e nauseante, honra ingloria e persona nercia! Oh, seu tolo de influencias virulentas, foste vitimado. Deixa que te elucide pobre cao nefasto, es o pueril desnaturado... foste violado! Por ti proprio atraicoado, cobarde miseravel!!!

Pessoas...




"Pessoas" e um assunto interessantissimo que me da ansia e desaconchego no peito;
A voracidade e dualidade humana me fascinam;
Conheci pessoas charmosas, elegantes, introspectivas, inteligentes, adolescentes "maduros", inconsequentes, benevolentes, abrangentes. Doravante, ninguem como ele;
Ele, ser humano do sexo masculino, homem, macho, dominante, sorridente, penetrante, hipnotizante, atraente, dormente, eloquente;
Ele me deu um filho, me fez sagrada, imaculada;
Sou mae por causa dele, sangrei por ele, gritei aos prantos por entre os olhos dele, fez-se luz por causa dele;
Ondjaki, com os olhos dele... sorriso meu.