sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ruptura



Ele pendeu para o seu lado da cama. Ela, paralisada, continuou com o olhar fixo no teto. Alguma coisa tinha acontecido ali, seu corpo era assaltado por um estremecer doloroso e seu sangue fluia com vigor dentro de suas veias.

- Uma pena.

Por varios segundos ela nao soube o que pensar, do que ele estaria a falar? Sua voz foi firme, calma, meticulosa, articulada. Por tudo isso, sentiu-se assustada. Um profundo assombro se apoderou de seu ser e a curiosidade aticou sua lingua mais rapido que a razao.

- Vou melhorar.

Uma lagrima brotou em seu olho, uma lagrima com um peso jamais imaginado. A admiracao cultivada por tantos anos findara ali, naquele momento, pelo acaso. Por pura estupidez chegou ao fim. A dor dominou sua mente, sua esperanca sucumbia a realidade do som. Sua lagrima ja estava envenenada, de nada adiantava tentar expelir uma verdade ja entranhada.

- Eu juro que vou me esforcar.

Tornara-se insuportavel. Identificou os primeiros sinais de desprezo, apatia por aquela criatura com quem nos ultimos nove anos dividiu sua cama. A ojeriza perturbou seu ser de tal maneira que levantou-se abruptamente e sem uma decisao tomada, decidiu-se pela ruptura.

Resquicios de lucidez fizeram-na aguardar em silencio. Seu desvario neutralizou seus membros e em silencio mas com o olhar, acompanhou os movimentos de seu companheiro de tantos anos. Ele fez sua mala, uma mala rapida, de urgencia, de salvacao! Estava aflito, sufocado, saia em liberdade. Isso a choca, a magoa, a viola... nao sera capaz de perdoar tamanha sinceridade.

- Se voce precisar de alguma coisa, pode me ligar.

E ela, sabendo que ali teria sua desforra, fez uso de toda a sua educacao. Foi da seguinte maneira que destilou suas terceiras intencoes:

- Que sejas feliz, e isso que te desejo. Do fundo do meu coracao.