domingo, 8 de agosto de 2010

Maria, a da Farmacia



Todas as tercas-feiras Maria tinha 2 horas para o almoco. Trabalhava na farmacia da esquina de sua casa. Toda a sua vida esteve ali, no seu bairro, Santa Cruz da Serra. Era uma moca comum, nela nada havia de incomum. Contava 27 anos, solteira, com algumas historias, sonhos e planos tambem. Nao era bonita, era comum. Almocava todos os dias no botequim do Seu Milton.

Curiosamente, naquele dia sentia-se diferente. Podia ser a TPM, podia ser do calor, mas na realidade, o motivo nao a preocupava tanto assim... Comecou a reflectir sobre factos passados, viu-se ridicula em muitas situacoes e isso arrancou-lhe gargalhadas, mas surpreendeu-se com o quao aberta foi com meros estranhos, pessoas que ate hoje ela cumprimentava e conversava mas com quem nao criou vinculo nenhum, apesar dos anos.

Eram nessas coisas que Maria pensava quando uma mosca pousou em seu refrigerante e era nisso que continuava a pensar quando a afastou tambem. Percebeu que houve um momento muito delicado em sua vida, um momento em que se expos demais, sem motivo, por pura inocencia ou fragilidade. Deu passos errados, sem pensar... Juntou-se a multidão.

Compreendeu que em muitas situacoes nao teve personalidade nenhuma, nao havia muito ali dentro na altura. Assustada, pousou os talheres e perguntou-se se esse passado era longinquo ou se ele ainda estaria conectado ao seu presente. Seria assim tao patetica? Quis culpar-se, mas lembrou-se das muitas culpas que ja carregava consigo. O que faria Maria dali para frente?