A música estava perfeita, os corpos quentes transpiravam, viam seu suor evaporar e se condensar nas suas peles agora húmidas. Os suspiros profundos, quase de meditação, davam lugar a espasmos cheios de prazer, um prazer quase sádico.
Até aqui o cenário era perfeito. Havia interesse recíproco, havia sensualidade, a atração era animal, os cheiros agradavam, a voz excitava, o olhar arrepiava e enrijecia. Mas, mas há sempre um ‘mas’.
Somos feministas. Sim, somos feministas. Ser feminista é civilizado, avançado. Ser feminista é ser igual, igual a um homem, aos homens. Não foi isso que aquela senhora disse? Aquela francesa que só usava roupas pretas, aquela EXISTENCIALISTA. Qual era mesmo o nome dela?
Entrou no carro, entrou com a segurança que só a ignorância pode dar. Pensou que ser feminista era fazer o que os homens faziam e nem lembrou de perguntar se era mesmo isso que os homens faziam.
-Era isso que os homens faziam?
Ele respondeu-lhe, depois da ereção:
- Que homens?
Era fácil deixar-se levar, tão confortável e… prazeroso. Todos ao seu redor faziam o mesmo e parecia que todos antes deles também o fizeram, e mesmo depois deles haveriam de fazer o mesmo. O que ela não sabia é que o tempo, o antes, o agora e o depois não existem. Nunca houve antes e nunca haverá um depois. Por isso ele riu-se da ignorância dela e sentiu um pouco de pena.
Lambeu o seu pescoço, mordiscou o seu lábio avermelhado e enfiou-lhe os dedos pela vagina a dentro. Ela gemeu como todas as outras antes dela e ele achou engraçado esse traço comum e mundano partilhado por todas as portadoras de uma vagina que teve o prazer de conhecer.
Depois desta noite gloriosa, passou a gemer todas as semanas com dedos diferentes. Ela, que nunca pensou que tamanho fizesse diferença rapidamente percebeu que essa afirmação é relativa.
Não percebeu quando as coisas começaram a dar errado. Estava pesada, de mal consigo, sem bons convites de gente decente. Acabou por render-se aos tamanhos que conhecia, os únicos que a conseguiam preencher naquele vazio.