Sofia era pequena, linda. Chegou com o lacinho rosa que haviam comprado para aquele momento e vestida com a roupinha de crochê feita por sua avó paterna. Bocejava angelicalmente e contorcia os dedinhos enrugados que não sabia ainda controlar. Foi à ela entregue, a sua progenitora.
Helena não soube frear esta emoção, não soube sequer analisá-la, limitou-se a senti-la. Uma forte e incomensurável repulsa a invadiu, teve náuseas e horror por aquela criatura que se encontrava em seus braços, que havia saído de dentro de si e que agora instintiva e cegamente procurava o bico do seu seio para se alimentar. Seu desespero foi avassalador. Suas mãos passaram a tremer e a suar, sua boca criou mil e uma rugas à sua volta e seu cenho franziu sorumbaticamente. Quis fugir daquele ser que repudiava grotescamente.
Neste instante, Gilberto entrou no quarto, trazia um cesto de flores, balões e uma máquina fotográfica. Odiou-o profundamente, sentiu nojo e desprezo por aquele bondoso e trabalhador homem que era o seu marido. A felicidade resplandecente patente em seus olhos foram o golpe final para que a repulsa por ele se instalasse definitivamente em seu âmago.
Helena pediu a Deus para morrer, lembrou também de seus sonhos de menina, de suas aspirações e desejos. Por fim, sentiu um consternador remorso, estava condenada. Pôs-se a chorar e Gilberto soube captar, prontamente, o momento de suas lágrimas com a sua máquina fotográfica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário