domingo, 21 de agosto de 2011

23:43




23:43, era uma sexta-feira abafada. A festa estava quente, as pessoas sentadas em grupos, observavam de esguelha as outras mesas à procura, à caça. Ela sabia disso, também ela assim o estava, agora que eram 23:43.

Aquele homem ali era algo destinado, ele não pertencia àquele lugar, ela sabia-o perfeitamente. Não deixaria essa oportunidade passar, era um sinal de suas mais íntimas crenças pessoais.

Sentiu sua presença. Pôs seus olhos sobre ele e sentiu um ímpeto em seu âmago, sua saliva tornou-se mais espessa, seus poros abriram-se um pouco mais...

Não era sentimento, era pura excitação, vontade de sexo. Seus cabelos claros e longos presos de forma feminina despertava seus sentidos, adorava essa pequena androginia característica nesses homens.

Lembrou-se de Eduardo, finalmente percebeu o seu ponto de vista e concordou, ele tinha a razão. Sentiu uma pequena revolta, por mais vontade que tivesse daquele homem jamais conseguiria realmente viver aquele momento sem ferir a lealdade que nutria por seu companheiro.

Lembrou-se que na altura em que o mesmo lhe sucedera, ela não aceitara o que agora desejava impiedosamente.

Com o olhar turvo pela lascívia, chegou-se a ele e permaneceu ao seu lado, pensativa e calada.

domingo, 8 de maio de 2011

Os orgasmos de Isabela




Há muito que Isabela desejava aquele homem. Já haviam se encontrado algumas vezes em casa de amigos e conhecidos em comum, haviam trocado algumas palavras, algumas ideias, mas nada conciso ou revelador, o mistério sempre permanecia.

Naquela manhã Isabela acordou com um forte desejo, queria aquele homem.
Trocaram algumas palavras, acendeu algumas velas e incenso, a luz foi tornada indirecta e tocaram-se.

Isabela principiou por mordiscar o lábio masculino, entrelaçou os dedos em sua nuca e sentou-se em seu colo. Sentiu a erecção masculina mas não deixou que o ego a dominasse.

Beijou-lhe com escrutínio, a procura de algo que só ela sabia o que era. O homem abraçou-lhe o corpo, abocanhou seu seio direito e sussurrou algo indizível.

Isabela já sentia seu sexo molhado, seu ponto de prazer estava ansioso por ser acariciado. Ele lambia seu pescoço, sua orelha, a palma de sua mão!

Isabela ainda ponderava se iria se entregar a aquele momento. Podia levantar-se e sair dali sem sequer olhar para trás, ignorar por completo aquelas sensações.

Ela pôs em sua boca o dedo indicador de seu macho e depois o introduziu em sua vagina, era ela quem controlava a profundidade e a força com que era tocada. Em seguida, Isabela permitiu que fosse realmente ele a penetrá-la.

O homem pôde ver a expressão de gozo na face de Isabela. Ela se contorceu de prazer, fechou os olhos e passou a língua nos lábios. Repentinamente pôs a mão no peito do homem pedindo-o que parasse. Ele obedeceu e ficou à espera que ela lhe desse alguma indicação. Isabela permaneceu com os olhos fechados mas mexeu os quadris no sentido inverso. Ela voltou a atingir o êxtase.

Ele sugou seu mamilo esquerdo, lambeu seu rosto e beijou-lhe a boca. Isabela mordeu-lhe ferozmente, gemeu mais alto e tornou seus movimentos mais rápidos e frenéticos.

Após mais um orgasmo, Isabela debruçou-se sobre ele por alguns segundos. Passados 15 minutos, já ela estava em frente ao semáforo, dentro de seu carro, a espera de que a luz verde permitisse que os carros pusessem-se em movimento.

Isabela tinha muito trabalho para fazer naquela manhã de terça-feira. Há dois minutos soube que sua paciente entrou prematuramente em trabalho de parto. Definitivamente seria um dia difícil.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Francisco, o filho




Adriana era agora uma mulher muito mais consciente de si, de suas necessidades. Aprendeu a ser-se suficiente, mas nem sempre fora assim.

Era uma pessoa regrada, nada dada a exageros ou extravagâncias. Mas apaixonou-se, e quando uma moça regrada se apaixona a mística da vida se liberta e permite que o destino flua.

Naquele encontro casual, com bocas se engolindo, mãos irriquietas, respirações ofegantes, suor, hálito, olhares entorpecidos pela libido, sussurros e orgasmos, fez-se a vida.

Cinco anos é algum tempo, com cinco anos uma criança já sabe ler, já sabe escrever, já sabe se questionar e interpelar outrem com suas inquietações, aos cinco anos nosso cérebro é genial e com cinco anos ninguém nos pode enganar.

Francisco contava cinco anos, há cinco anos que não tinha pai. Ele sabia que ele existia, mas este parecia estar muito ocupado e nunca pôde, desde seu nascimento, reservar uma parte de seu tempo para conhecê-lo. Francisco pusera essa questão a sua mãe algumas vezes e esta, naqueles momentos, contorcia o rosto com uma expressão de exasperação e medo, o que o deixava muito impressionado. À noite o menino ouvia sua mãe chorar sob a penumbra da janela e assim concluiu que falar de seu pai devia ser doloroso.

Nas férias de julho de 1995, Márcia o havia ido buscar à natação e quando chegou à casa, Francisco percebeu-a muito silenciosa. Era hora do almoço e o menino, mesmo tendo detectado o silêncio incomum, correu aos gritos para o banheiro para lavar as mãos. Márcia avisou-o de que a comida iria demorar mais algum tempo e ele pôs-se então a assistir alguma baboseira na televisão.

Entretanto, ouviu vozes vindas do quarto de sua mãe. Ela não deveria estar em casa a essa hora! Isso era estranho. Encaminhou-se curioso até lá e com uma grande ansiedade pôs a mão na maçaneta e adentrou o quarto. Viu um homem sentado na poltrona perto da janela e sua mãe na beira da cama, com uma expressão muita séria.
O tal estranho estava nervoso mas ao mesmo tempo parecia tentar se controlar a todo o custo. Tinha uma aparência muito singular. Era bonito, mais velho que sua mãe, cabelos grisalhos e dentes e olhos igualmente grandes. Francisco não teve medo daquele estranho, na verdade sentiu uma profunda alegria.

O menino respirou fundo e um segundo depois correu com todas as suas forças em direção ao homem. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e quando pulou e abraçou fortemente o pescoço de seu pai, Francisco disse que tinha certeza de que aquele momento chegaria.

Passaram a tarde toda conversando na varanda do apartamento. O menino mostrou o álbum de fotos que vinha organizando, assim ele não teria perdido os grandes momentos da sua vida. Francisco percebeu que seu pai ia chorar, seus olhos estavam avermelhados, carregados de lágrimas e seu peito parecia prender todo o ar. O menino disse que não fazia mal ele só ter aparecido naquele momento para conhecê-lo, o que importava é que ele estava ali.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Uma história do amor com final feliz




Era uma manhã de chuva, o céu acinzentado destoava do clima daquela cidade maravilhosa. Os pingos d´água molhavam a varanda da casa, os móveis de veraneio, as enormes janelas só de vidro.

Roberto estava pensativo naquela manhã chuvosa de julho, era domingo, era dia de descanso, dia de curar mais um pouco a sua osteoporose na alma. Estava embrulhado nos lençóis de seda cor de marfim, seu quarto cheirava a incenso indiano, comprado em sua última viagem.

Acordou com saudade, acordou e lembrou daquele beijo, aquele beijo, daquele beijo. Surpreendeu-se com aquele desejo, aquela saudade tão dolorosa que é sentir o sabor, o cheiro daquilo que sabemos já não mais poder ter.

Esta era a maior conquista de Paulina, e ela nunca o soube. Havia há muito ido da vida de Roberto, entretanto seu cheiro impregnara as narinas, a casa, o carro, as mãos, a boca, a mente e os lençóis deste homem.

Haviam passado muitas mulheres por aquela cama, mulheres mais sensuais, inteligentes, divertidas e fortes do que ela. Mas era Paulina quem Roberto amava, por mais difícil que fosse de se perceber este amor.

Era ela a mulher que Roberto procurava a meio da noite quando esticava o braço pela cama em busca de aconchego e proteção, era por causa dela que ele inconscientemente só se permitia dormir numa metade da cama. Foi para ela que ele comprou as violetas que ficam no centro da mesa da sala de estar.

Roberto sabia que Paulina não era a mulher mais bela do mundo, não era a mais perspicaz nem a mais elegante. Sabia que não era a mais ousada durante o sexo nem a mais madura emocionalmente mas ele a amava e para isso não encontrava explicação racional, só se conseguia lembrar do cheiro de seu perfume, do cheiro de seus cabelos quando acabados de lavar, do cheiro de seu creme de corpo e da sua pela macia, dos seus lábios naturalmente desidratados e da expressão de seu rosto durante o amor.

Neste instante lembrou-se que jamais conseguiria tê-la de volta, jamais conseguiria o seu perdão, sabia que Paulina era agora a mulher que ele jamais imaginou que ela pudesse se tornar, uma mulher amadurecida e lúcida que agora facilmente deslindaria seus defeitos e fraquezas, e isso ele não poderia suportar, por isso preferia viver de cheiros e lembranças do que de realidade e seus cruéis desafios diários.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A puta






Foi uma voz forte, com projecção, que conduziu Maria de Fátima, a puta que acompanhava aquele homem tão distinto, até a uma das melhores mesas daquele recinto.

Iriam passar a noite juntos, ele iria penetrá-la quantas vezes quisesse e da maneira que quisesse. Contudo, a puta havia estipulado o preço para isto, por isso ela não era de quem a quisesse, era somente de quem pudesse pagar o o seu valor.

Maria de Fátima era esbelta, talvez magra demais e sem muitos atrativos físicos que sugerissem que pudesse prender a atenção de um homem como ele, mas curiosamente e contra toda a probabilidade, ele havia se encantado com a dita puta.

A puta era tacanha, digo tacanha na tentativa de mostrar realmente a baixeza da tal mulher. Tinha um cabelo cacheado maltratado, uma pele suja e marcada de sinais e imperfeições, unhas mal cuidadas e dentes amarelados. Simplesmente não se conseguia perceber o quê aquele sujeito vira naquela criatura.

Era visível o ar de insatisfação em receber tal discrepante par naquele singular restaurante de Genebra. Os garçons apresentavam um semblante impávido que só podia significar forte desagrado, caso contrário, seriam risonhos como o eram com o casal da mesa ao lado. Por conseguinte, os demais clientes evitavam o olhar frontal, preferindo observar de "esguelha", como quem observa um criminoso a ser preso pela polícia depois de uma tentativa de assalto a banco.

Contudo e, para grande infortúnio dos demais, que gostariam de censurar Maria de Fátima pelo fim que esta dava ao seu corpo, ela estava muito aquém da capacidade que lhe permitiria captar esta atmosfera hostil. Era uma pessoa com um intelecto muito pouco desenvolvido, que mais se assemelhava ao de um animal, ou melhor, de uma fêmea em altura de acasalamento e que, já agora contextualizando a situação, havia encontrado o macho que lhe parecera mais indicado para "cobrí-la" e saciar suas naturais obrigações de fêmea.

Por outro lado, ele tinha plena consciência da situação. Da censura para com eles, o par discrepante, e da tamanha abstracção de sua acompanhante para com as circunstâncias. Entretanto, a única coisa que permanecia em sua mente era a sua ansiedade para descobrir o sabor do ponto húmido de sua acompanhante.

A ignorante e ignóbil mulher, sendo este o factor atrativo desta fêmea para este homem, o havia fascinado por completo. Não iria se apaixonar, para isso seriam necessários muitos outros atributos que ela jamais seria capaz de desenvolver pois tratava-se de uma criatura rasa, com a profundidade de um pires.

Aquele homem era ali, naquela mesa, naquele restaurante em Genebra, o macho que percebera uma fêmea em época de acasamento e lembrou-se das suas obrigações enquanto tal. Ele tinha esta percepção e não censurava a si próprio, aliás, isto o excitava ainda mais, e além dissso, ela o atraía fisicamente, gostava do formato dos seus seios e da maneira que punha os cotovelos sobre a mesa e lançava-lhe um olhar vazio, sem nenhuma mensagem.

Nisto ela era também intrigante, pois ele nunca antes estivera com uma mulher que não quisesse nada em troca. Havia sempre um pedido de casamento, de sexo, de amor no olhar das mulheres que havia tido.
Maria de Fátima abriu suas pernas e ele pôs dois dedos molhados de saliva em sua vagina. Ela abstraiu-se mais uma vez, dessa vez quase havia partido para outra dimensão, estava longe deste mundo. Ele penetrou-a pela primeira vez, depois uma segunda e terceira vez, penetrou-a quantas vezes quis e da maneira que lhe apeteceu. Ela era a fêmea que necessitava de seu esperma para cumprir sua obrigação natural.

Ele, mais tarde, lembrar-se-ia de que havia usado protecção contra as doenças mundanas, anulando assim o seu contributo para com a natureza. Iria também lembrar-se que, misteriosamente, a ignóbil ignorante criatura havia murmurado uma frase relevante no momento em que ele havia perdido suas forças e se debruçado por completo por cima dela. Aquela frase o irá chocar, ao constatar que se tratava de Vinícius em um de seus memoráveis sonetos.

Haveria afinal alguém dentro daquele corpo que parecia pairar e deambular sem rumo e consciência por este mundo?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O porquê do meu silêncio



Rio de Janeiro, 20 de Dezembro de 1997

Oi Marquinhos!

Eu estou te escrevendo para explicar porquê eu parecia uma múmia quando você chegava perto de mim!!!rsrsrs... Lá vai:

O meu silêncio tinha motivo. Permanecia calada por adorar ouvir atentamente os teus comentários e as tuas risadas, até os teus pensamentos mais disparatados e estapafurdíos!

Não dizia nada porque havia tanta coisa para ser dita que o silêncio parecia a forma mais verdadeira de expressar todas as palavras que me vinham à cabeça.

As perguntas que não soube responder até hoje não têm resposta. Aliás, a resposta nem sequer interessa, só o poder ficar sem palavras alguma vez importou.

Finalmente, explico que eu não falava porque você me tirava o ar e me fazia sonhar.


De: Fabiana
Para: Marquinhos

Obs: já não gosto de você, desculpa ta! Beijooo

Almoço de domingo




Fazia um calor dos diabos naquela tarde de domingo. Estavam todos ali, sentados à volta da mesa, reunidos em família, para mais um almoço de confraternização. Irmãos, irmãs, cunhados e cunhadas, primos e sobrinhos, filhos e pais, mães e avós, crianças.

O marido traído age com naturalidade, puro medo de ser descoberto. Claro que todos já sabem, mas ninguém ousa manchar a honra da irmã querida que cometeu o pequeno deslize mencionado. Enquanto isso, a cunhada desconfiada se mantém apreensiva, ela a pensar numa forma de conseguir o que até o momento não conseguiu, ser aceite. Porem, não sabe ela que pouco importa quantas crianças ela venha a gerar e acrescentar à aquela família, ela será para todo o sempre uma estranha em seu seio.

O tio músico começou a tocar, a cantar e dançar. A ele juntam-se irmãos, sobrinhos e a empregada assanhada que gosta ou acha que precisa de insuflar o ego do patrão para assim conseguir levar parte da comida excedente para sua própria casa, assim também ela poderá financiar aos seus uma reunião parecida com aquela. Por sorte, o patrão tinha ido à pesca e saíram bons peixes, podia conseguir alguns.

Como já foi dito, o tio músico já estava animando o ambiente, nessa altura os amigos da família começaram a chegar e com isso surgiam conversas de todo teor. Por exemplo, quando não haviam mulheres nem filhos por perto, os homens reunidos sentiam-se à vontade para comentar sobre as suas ou as amantes dos amigos e conhecidos. Soltavam também exclamações saudosistas daquela vida boémia tão boa da juventude! De quando conseguiam pular muros para conseguir administrar as namoradas e não serem apanhados. Nestas alturas, as irmãs, amigas, primas, sobrinhas e tias ajudavam os vivaços rapagões a driblar as entusiasmantes situações e no dia seguinte esse era com certeza assunto predilecto de todos até o próximo acontecimento semelhante.

Alguns nunca viriam a conseguir esquecer essas memórias, estando assim presos a um passado que, como quem luta bravamente pela vida, tentavam até as últimas consequências mantê-las vivas. A esposa ainda não tem ideia da tamanha determinação do marido neste sentido. Entretanto, algumas irão combater a situação e encontrar uma saída, contudo, outras, por motivos profundos e obscuros, jamais conseguirão se libertar, afundando na areia movediça… lenta e dolorosamente.

Os filhos são amados, no limite do possível. Existem amantes, egos avassaladores e nestes casos não sobra o suficiente para os filhos, pais, irmãos, sobrinhos, para os outros. Contudo, os filhos estão bem, eles são os primeiros a comer, a rir, a gozar com as outras crianças, a entreter o ambiente! As meninas estão na sala, a brincar com as namoradas dos primos mais velhos, a ver televisão com as sogras e tias emprestadas, a contar umas as outras os últimos acontecimentos das vidas dos outros.

A empregada estilhaça um copo de vinho e a dona da casa zangasse sobremaneira com a maldita desastrada. Um copo de vinho faz muita falta na cristaleira! Ouvem-se alguns xingamentos mal disfarçados, um primo afastado pede calma e chama a patroa da desastrada à razão, o marido da patroa pede discrição à mulher pois eles “têm visitas!”. A pobre coitada da cínica empregada já sabe que terá que se rebaixar um pouco além do por si imaginado para conseguir levar o tão almejado peixe para casa.

A amiga lúcida que de tanta lucidez começou a dar sinais de frustração com aquela gente tão hipócrita e mesquinha, já começava a sentir vontade de dizer as grandes verdades que via mas, sabe-se la porque, mantem-se sentada e a rir-se das anedotas e histórias desenterradas dos bons velhos tempos. Suas verdades podem ser adiadas para a próxima reunião, não vale a pena estragar o momento, além do mais o vinho está muito bom!