quarta-feira, 4 de maio de 2011

Francisco, o filho




Adriana era agora uma mulher muito mais consciente de si, de suas necessidades. Aprendeu a ser-se suficiente, mas nem sempre fora assim.

Era uma pessoa regrada, nada dada a exageros ou extravagâncias. Mas apaixonou-se, e quando uma moça regrada se apaixona a mística da vida se liberta e permite que o destino flua.

Naquele encontro casual, com bocas se engolindo, mãos irriquietas, respirações ofegantes, suor, hálito, olhares entorpecidos pela libido, sussurros e orgasmos, fez-se a vida.

Cinco anos é algum tempo, com cinco anos uma criança já sabe ler, já sabe escrever, já sabe se questionar e interpelar outrem com suas inquietações, aos cinco anos nosso cérebro é genial e com cinco anos ninguém nos pode enganar.

Francisco contava cinco anos, há cinco anos que não tinha pai. Ele sabia que ele existia, mas este parecia estar muito ocupado e nunca pôde, desde seu nascimento, reservar uma parte de seu tempo para conhecê-lo. Francisco pusera essa questão a sua mãe algumas vezes e esta, naqueles momentos, contorcia o rosto com uma expressão de exasperação e medo, o que o deixava muito impressionado. À noite o menino ouvia sua mãe chorar sob a penumbra da janela e assim concluiu que falar de seu pai devia ser doloroso.

Nas férias de julho de 1995, Márcia o havia ido buscar à natação e quando chegou à casa, Francisco percebeu-a muito silenciosa. Era hora do almoço e o menino, mesmo tendo detectado o silêncio incomum, correu aos gritos para o banheiro para lavar as mãos. Márcia avisou-o de que a comida iria demorar mais algum tempo e ele pôs-se então a assistir alguma baboseira na televisão.

Entretanto, ouviu vozes vindas do quarto de sua mãe. Ela não deveria estar em casa a essa hora! Isso era estranho. Encaminhou-se curioso até lá e com uma grande ansiedade pôs a mão na maçaneta e adentrou o quarto. Viu um homem sentado na poltrona perto da janela e sua mãe na beira da cama, com uma expressão muita séria.
O tal estranho estava nervoso mas ao mesmo tempo parecia tentar se controlar a todo o custo. Tinha uma aparência muito singular. Era bonito, mais velho que sua mãe, cabelos grisalhos e dentes e olhos igualmente grandes. Francisco não teve medo daquele estranho, na verdade sentiu uma profunda alegria.

O menino respirou fundo e um segundo depois correu com todas as suas forças em direção ao homem. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e quando pulou e abraçou fortemente o pescoço de seu pai, Francisco disse que tinha certeza de que aquele momento chegaria.

Passaram a tarde toda conversando na varanda do apartamento. O menino mostrou o álbum de fotos que vinha organizando, assim ele não teria perdido os grandes momentos da sua vida. Francisco percebeu que seu pai ia chorar, seus olhos estavam avermelhados, carregados de lágrimas e seu peito parecia prender todo o ar. O menino disse que não fazia mal ele só ter aparecido naquele momento para conhecê-lo, o que importava é que ele estava ali.

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