Foi uma voz forte, com projecção, que conduziu Maria de Fátima, a puta que acompanhava aquele homem tão distinto, até a uma das melhores mesas daquele recinto.
Iriam passar a noite juntos, ele iria penetrá-la quantas vezes quisesse e da maneira que quisesse. Contudo, a puta havia estipulado o preço para isto, por isso ela não era de quem a quisesse, era somente de quem pudesse pagar o o seu valor.
Maria de Fátima era esbelta, talvez magra demais e sem muitos atrativos físicos que sugerissem que pudesse prender a atenção de um homem como ele, mas curiosamente e contra toda a probabilidade, ele havia se encantado com a dita puta.
A puta era tacanha, digo tacanha na tentativa de mostrar realmente a baixeza da tal mulher. Tinha um cabelo cacheado maltratado, uma pele suja e marcada de sinais e imperfeições, unhas mal cuidadas e dentes amarelados. Simplesmente não se conseguia perceber o quê aquele sujeito vira naquela criatura.
Era visível o ar de insatisfação em receber tal discrepante par naquele singular restaurante de Genebra. Os garçons apresentavam um semblante impávido que só podia significar forte desagrado, caso contrário, seriam risonhos como o eram com o casal da mesa ao lado. Por conseguinte, os demais clientes evitavam o olhar frontal, preferindo observar de "esguelha", como quem observa um criminoso a ser preso pela polícia depois de uma tentativa de assalto a banco.
Contudo e, para grande infortúnio dos demais, que gostariam de censurar Maria de Fátima pelo fim que esta dava ao seu corpo, ela estava muito aquém da capacidade que lhe permitiria captar esta atmosfera hostil. Era uma pessoa com um intelecto muito pouco desenvolvido, que mais se assemelhava ao de um animal, ou melhor, de uma fêmea em altura de acasalamento e que, já agora contextualizando a situação, havia encontrado o macho que lhe parecera mais indicado para "cobrí-la" e saciar suas naturais obrigações de fêmea.
Por outro lado, ele tinha plena consciência da situação. Da censura para com eles, o par discrepante, e da tamanha abstracção de sua acompanhante para com as circunstâncias. Entretanto, a única coisa que permanecia em sua mente era a sua ansiedade para descobrir o sabor do ponto húmido de sua acompanhante.
A ignorante e ignóbil mulher, sendo este o factor atrativo desta fêmea para este homem, o havia fascinado por completo. Não iria se apaixonar, para isso seriam necessários muitos outros atributos que ela jamais seria capaz de desenvolver pois tratava-se de uma criatura rasa, com a profundidade de um pires.
Aquele homem era ali, naquela mesa, naquele restaurante em Genebra, o macho que percebera uma fêmea em época de acasamento e lembrou-se das suas obrigações enquanto tal. Ele tinha esta percepção e não censurava a si próprio, aliás, isto o excitava ainda mais, e além dissso, ela o atraía fisicamente, gostava do formato dos seus seios e da maneira que punha os cotovelos sobre a mesa e lançava-lhe um olhar vazio, sem nenhuma mensagem.
Nisto ela era também intrigante, pois ele nunca antes estivera com uma mulher que não quisesse nada em troca. Havia sempre um pedido de casamento, de sexo, de amor no olhar das mulheres que havia tido.
Maria de Fátima abriu suas pernas e ele pôs dois dedos molhados de saliva em sua vagina. Ela abstraiu-se mais uma vez, dessa vez quase havia partido para outra dimensão, estava longe deste mundo. Ele penetrou-a pela primeira vez, depois uma segunda e terceira vez, penetrou-a quantas vezes quis e da maneira que lhe apeteceu. Ela era a fêmea que necessitava de seu esperma para cumprir sua obrigação natural.
Ele, mais tarde, lembrar-se-ia de que havia usado protecção contra as doenças mundanas, anulando assim o seu contributo para com a natureza. Iria também lembrar-se que, misteriosamente, a ignóbil ignorante criatura havia murmurado uma frase relevante no momento em que ele havia perdido suas forças e se debruçado por completo por cima dela. Aquela frase o irá chocar, ao constatar que se tratava de Vinícius em um de seus memoráveis sonetos.
Haveria afinal alguém dentro daquele corpo que parecia pairar e deambular sem rumo e consciência por este mundo?