quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Boba



Eu sei que tem gente que pensa que eu sou boba, bobinha, boboca... A bem da verdade, eu realmente sou boba, mas o sou por escolha. E verdade, eu fiz uma escolha! Acho que muita gente passa por essa fase, em que podemos escolher como queremos ser. Assim definimos o que, terminantemente, nao faremos.

Eu decidi que preferia ser uma boboca, mas nao qualquer bobinha por ai... Eu sou uma boba da Clarice! Porque segundo ela, existem os bobos e os espertos, e bem, os bobos parecem ser mais espertos que os espertos. Assim sendo, e por confiar na Clarice, assumi minha bobeira.

Minha vida de boba me mostrou muita coisa, um monte de verdades. A realidade gostou de mim e batemos um papo bem agradavel la no Jardim Botanico, junto dos passarinhos do Tom.

Existem muitos espertos e por existirem tantos, tenho me tornado cada vez mais bobinha. Os espertos sao muitos, alguns ate tem cara de bobos mas sao os que tem mais esperteza. Por vezes, tambem me confundem com uma espertinha, mas o meu inato silencio traz a tona minha bobeira e todos se apercebem que poderia ser esperta mas que nao sou.

Os espertos gostam de ser assim, gostam do palco e sao realmente muito bons nisso. Existe tambem uma outra classe de espertos, os dos bastidores e esses sao os grandes maestros. Os bobos compram os ingressos e assistem o espetaculo de camarote, na maioria das vezes. Os bobos sao os criticos, e com suas criticas dao animo aos espertos para continuarem sua vida artística.

Os espertos, por serem exactamente isso, espertos, acham os bobos muito bobos e nunca mudarao sua vida de esperteza por uma simples bobeira. O bobo sempre sera bobo, porque sendo um bobo ele consegue sentir coisas que aos espertos, passam despercebidas. O bobo gosta de ser bobo, ele esta imune a toda esperteza do esperto e a bobeira do bobo, por ser boba, consegue chegar aonde a esperteza nunca tera interesse em ir.

Todo bobo ja foi esperto, ou melhor, todo bobo e esperto mas nenhum esperto consegue ser bobo porque ele e esperto demais para uma bobagem dessas.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A descarada!



Tenho que parar de inventar personagens para mim mesma. Tenho que deixar disso, essa psicose meio paranoica e doida! Poxa, tenho que deixar de imaginar todas essas situacoes inusitadas que nunca irao acontecer! Mas, sempre vem um MAS...

Cara, eu estou sempre me reinventando, sei la... e quando eu faco o que eu quero, exclusivamente o que eu quero, sinto um vazio depois, alguma coisa fica sempre faltando. Entao eu me calo e escuto, rio e so comento...

Odeio quando percebo que alguem e burro, quando alguem esta sendo estupido e idiota, me sinto ma. Quem sou eu para julgar alguem? A sociedade nos educa a respeitar tudo, ate as maiores besteiras e bobagens que se ouve por ai. Acho que e por isso que nao consigo atestar um babaca como tal, puro pudor moral e auto-flagelante.

Ah, conheci ele hoje. Ele e super gente boa, fala pra caramba e imita um monte de sotaques! Relacao ao...ao..., e um figura. Me apaixonei, putz cara, me apaixonei. Tambem nao podia ser de outra maneira, ele tem um jeitinho especial. Me mostrou coisas novas, me lembrou do que nao devia ter esquecido e bom, me fez feliz.

Agora eu ando pensando em mais uma personagem, ainda nao sei bem quem ela e, do que gosta ou se gosta de alguma coisa. Parece quieta demais, estranhamente falante, as vezes, e pedante. Sei que e simpatica, bonita e pequenininha... talvez seja inteligente ou, se calhar, so bem informada. Ela esta meio perdida, foi a impressao mais definitiva que tive, porque ela tem muitas opinioes e quem tem muita opiniao nunca sabe muito bem o que pensar, sao sempre meio contraditorios. Acho que e por ai, ela e bem erractica, como se fosse muitas numa so, meio aluada ou de fases.

Peguei ela ouvindo Los hermanos, Simply Red, MGMT, Patrice, U2 e cara, Gabriel, o pensador... So pode ser crise existencial! E dificil estipular uma personalidade a uma criatura tao "versatil", assim fica complicado criar uma historia. A nova dela e essa historia do MAS, vou ter que escrever um POREM no lugar.
Menininha velha, so que interessante. Tem uma risada gostosa e essa risada a entrega por completo, a mascara cai toda vez que ri, e muito expressiva a moca. Eu acho que ela e feliz mas adora se fingir de melancolica. Sabe aquele charminho frances?! A nostalgia escancarada nos filmes deles! Entao, so pode ser isso... Por isso a impressao de ela estar perdida, ela cria os seus proprios comportamentos, como quem separa a roupa do dia seguinte na noite anterior.

Como toda boa frasa, ela e efemera. E ai sim, por saber que esse dia vai chegar, eu fantasio situacoes e especulo sobre o que estara por baixo dessas mascaras que dao vida a personagens tao meticulosamente criados e apresentados. A mente por detras disso tudo tem que ser no minimo DESCARADA!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A livraria



Era uma vez uma moca chamada Marina. Ela tinha 19 anos, estudava Historia e queria ser uma pesquisadora. Marina era morena, cabelos cacheados, pele clara, sorriso facil, meiga e carinhosa, um pouco magra, baixinha e simpatica. Era inteligente, altruista de forma negativa... pensava muito, complicada de uma forma estranha, preguicosa e ansiosa tambem. Vivia em Lisboa, no ano de 1989.

Marina era bonita, tinha um corpo delgado, esquio e elegante. Possuia um ar amavel, amoroso e bondoso. Era de um temperamento calmo, sossegado, mas acutilante, agitado e nervoso quando posto a prova.
Um belo dia, numa livraria, Marina conheceu Gabriel. Andavam a procura do mesmo livro e a primeira coisa que viram um no outro foram as suas maos a disputarem o objecto. Ia realmente virar uma batalha, se nao fossem os cachos de Marina a desviarem a atencao do sujeito, que parecia ter ficado admirado e embevecido, ao que Marina pensou "coitados, tao visuais...".

O obvio, ja que se trata de uma historia romantica, aconteceu. Ja la iam 2 meses de intensa sintonia e companheirismo, alegria de um amor com sabor de fruta mordida. Gabriel era um cara genial, Marina e que havia sido a sortuda porque ele era excelente. Defeitos, claro! Uma coisa muito comum em pessoas inteligentes e aquela arrogancia escondida no inconsciente desses individuos, mas Gabriel era uma excecao! Seus pecados eram outros, mais nobres... menos sujos.

Ele tinha sacadas hilarias, era expressivo e comedido, de uma sagacidade invejavel. Marina era uma menininha engracadinha, espirituosa e comica a seu jeito. Tinha mania de cheirar coisas novas, escrevia com as duas maos, adorava tirar meleca do nariz quando estivesse sozinha, gostava de solidao em muitos momentos e Gabriel, bem... Gabriel era sociavel, comunicativo e astuto.

Um belo dia, Marina avistou o fim. Ja estava na hora daquilo acabar, porque ninguem podia viver tao bem como ela vinha vivendo nos ultimos tempos. Sua vida sempre foi de fases e era a isso que estava habituada, fases e ciclos. A partir desse dia passou a aguardar ansiosamente o fim... Acordava de madrugada e olhava o relogio a espera que tambem ele acordasse e terminasse o amor dos dois.

Gabriel percebeu que algo estava diferente, Marina ja nao sorria como antes, ja nao conversava como antes, ja nao ria como antes, ja nao dormia como antes! Ela ja nao era a Marina, era uma outra qualquer. Passou a desconhece-la, paulatinamente. Finalmente, chegou o dia tao aguardado por Marina e com um olhar soube que o fim fora decretado. Houve uma semana de descanso ate o momento tao sonhado pelos dois.

E assim, Marina iniciou sua nova fase e foi assim tambem que Gabriel se encantara por Joana. E o tempo passou, algumas coisas melhoraram, outras mantiveram-se.

Um belo dia, numa sexta-feira tumultuada, Marina teve que ir a uma livraria comprar um presente a uma amiga que fazia aniversario. Gabriel queria comprar um CD, uma colectanea do Caetano. Marina e Gabriel cruzaram-se novamente, na fila do caixa. No olhar admirado de Gabriel via-se que Marina agora era uma mulher, e ele quase se deu conta de que ela sempre fora o amor de sua vida... porem, nessa hora, ela fez-lhe uma pergunta, a qual ele nao percebeu e teve que pedir para repetir. Ficaram ali, por uns 3 minutos a darem suas noticias um ao outro, trocaram telefones e prometeram ligar.

Gabriel se apercebeu do que faltava em sua vida e Marina soube o quanto ele havia feito falta na sua.

domingo, 8 de agosto de 2010

Maria, a da Farmacia



Todas as tercas-feiras Maria tinha 2 horas para o almoco. Trabalhava na farmacia da esquina de sua casa. Toda a sua vida esteve ali, no seu bairro, Santa Cruz da Serra. Era uma moca comum, nela nada havia de incomum. Contava 27 anos, solteira, com algumas historias, sonhos e planos tambem. Nao era bonita, era comum. Almocava todos os dias no botequim do Seu Milton.

Curiosamente, naquele dia sentia-se diferente. Podia ser a TPM, podia ser do calor, mas na realidade, o motivo nao a preocupava tanto assim... Comecou a reflectir sobre factos passados, viu-se ridicula em muitas situacoes e isso arrancou-lhe gargalhadas, mas surpreendeu-se com o quao aberta foi com meros estranhos, pessoas que ate hoje ela cumprimentava e conversava mas com quem nao criou vinculo nenhum, apesar dos anos.

Eram nessas coisas que Maria pensava quando uma mosca pousou em seu refrigerante e era nisso que continuava a pensar quando a afastou tambem. Percebeu que houve um momento muito delicado em sua vida, um momento em que se expos demais, sem motivo, por pura inocencia ou fragilidade. Deu passos errados, sem pensar... Juntou-se a multidão.

Compreendeu que em muitas situacoes nao teve personalidade nenhuma, nao havia muito ali dentro na altura. Assustada, pousou os talheres e perguntou-se se esse passado era longinquo ou se ele ainda estaria conectado ao seu presente. Seria assim tao patetica? Quis culpar-se, mas lembrou-se das muitas culpas que ja carregava consigo. O que faria Maria dali para frente?