Evelyn sempre soube que os títulos são dados somente no fim
do texto. Textos são espontâneos, inatos, natos e têm vontade própria, mas ela
também sabia que Narizinho era diferente, ele era o título e o texto a ele se
ajustava.
Narizinho possuía um nariz aristocrático, talvez uma herança
de seu sangue azul. Era um nariz muito engraçado, não tinha curvas, não tinha
nada. Era recto e directo, muito assertivo. Evelyn, talvez por isso, gostasse
muito de brincar com narizinho, gostava de extremos e opostos e narizinho
tornava os extremos possíveis, ligava uma ponta a outra.
Se Evelyn pudesse, ela diria que Narizinho era muito
travesso, muito meigo e engraçado, e que era muito bom ouvir suas piadas. Ela
também gostaria de tê-lo acariciado mais vezes, abraçado mais vezes e feito
muitas mais perguntas, uma mais ridícula que a outra, como se de um concurso de
“ridiculismo” se tratasse.
Se Evelyn soubesse ela teria dito tudo o que sentia. Não
teria rido para dentro, teria rido para fora todas as vezes. Evelyn teria
partilhado seus sentimentos e demonstrado todo o seu amor. Ela teria dito que
adorava o sorriso de Narizinho e que ele a aconchegava sem a necessidade de
qualquer palavra.
Tarde de mais Evelyn se apercebeu do amor que sentia. Ele devia ser tão
inesperado que ela não soube identificá-lo, deixou-se simplesmente inundar pela
emoção de amar e se sentir amada, o que aliás é uma sensação tão boa que a
fazia sentir-se abençoada.
Evelyn soube que os amores passados tinham significado,
mantinham-se ali, dela faziam parte, mas soube também que eles serviram para
sustentá-la até aquele momento, aquele encontro em que tudo começou a fazer
sentido.
Por fim, nossa protagonista lamentou-se por sua imaturidade e se apercebeu do quão engraçada a
vida pode ser, trágica e cómica. Ela desejou também que tudo tivesse um motivo
e um sentido e resolveu acreditar, com muita alegria no coração, que tudo o que
tiver de ser algum dia será.