quarta-feira, 24 de abril de 2013

Narizinho








Evelyn sempre soube que os títulos são dados somente no fim do texto. Textos são espontâneos, inatos, natos e têm vontade própria, mas ela também sabia que Narizinho era diferente, ele era o título e o texto a ele se ajustava.

Narizinho possuía um nariz aristocrático, talvez uma herança de seu sangue azul. Era um nariz muito engraçado, não tinha curvas, não tinha nada. Era recto e directo, muito assertivo. Evelyn, talvez por isso, gostasse muito de brincar com narizinho, gostava de extremos e opostos e narizinho tornava os extremos possíveis, ligava uma ponta a outra.

Se Evelyn pudesse, ela diria que Narizinho era muito travesso, muito meigo e engraçado, e que era muito bom ouvir suas piadas. Ela também gostaria de tê-lo acariciado mais vezes, abraçado mais vezes e feito muitas mais perguntas, uma mais ridícula que a outra, como se de um concurso de “ridiculismo” se tratasse.

Se Evelyn soubesse ela teria dito tudo o que sentia. Não teria rido para dentro, teria rido para fora todas as vezes. Evelyn teria partilhado seus sentimentos e demonstrado todo o seu amor. Ela teria dito que adorava o sorriso de Narizinho e que ele a aconchegava sem a necessidade de qualquer palavra.

Tarde de mais Evelyn se apercebeu do amor que sentia. Ele devia ser tão inesperado que ela não soube identificá-lo, deixou-se simplesmente inundar pela emoção de amar e se sentir amada, o que aliás é uma sensação tão boa que a fazia sentir-se abençoada.

Evelyn soube que os amores passados tinham significado, mantinham-se ali, dela faziam parte, mas soube também que eles serviram para sustentá-la até aquele momento, aquele encontro em que tudo começou a fazer sentido.

Por fim, nossa protagonista lamentou-se por sua imaturidade e se apercebeu do quão engraçada a vida pode ser, trágica e cómica. Ela desejou também que tudo tivesse um motivo e um sentido e resolveu acreditar, com muita alegria no coração, que tudo o que tiver de ser algum dia será.